quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O que nós escrevemos


Ano-Novo

Depois da magia do Natal, o novo ano surge de mansinho, trazendo a esperança de todas coisas positivas que constituem as aspirações dos homens: a saúde, a paz, o amor, a felicidade, ingredientes tão necessários à caminhada terrena. E as nossas promessas? Seremos melhores? Estaremos melhores? O mundo estará melhor? Imbuídos de todos os bons desejos, valho-me do nosso poeta maior para expressar meus votos de que o ano que vem nos abrace e nos contemple com uma onda avassaladora de coisas alvissareiras.
Feliz 2011!

Desejo a você...

Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra “não”
Nem “nunca”, nem “jamais” e “adeus”
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas
De alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O que nós escrevemos

Conto de Natal
             Meu nome é Severino e tenho 10 anos. Moro num grotão, no interior do Estado... Não importa o nome. Sou brasileiro. Aqui moram 10 famílias e tenho 10 irmãos. Acho que o número 10 me acompanha porque sempre tiro 10 na escola. Pois tem uma escola no meu recanto e a professora anda 10 léguas para chegar aqui. Eu gosto muito de estudar e sou apaixonado com o estudo dos mapas porque eles me mostram que existem mais lugares e pessoas diferentes no mundo. Minha professora é muito sabida. Ela conhece o mundo inteiro viajando pelos mapas. Ela tem muitas fotos de vários países que ela recorta de revistas. Eu nunca vi uma revista, mas me contento com o que ela mostra. Assim, eu conheci o mar, a montanha, as cidades, a neve, os carros, os barcos, os aviões e até homens que voam de cima de uma pedra. É muito legal porque de noite eu fecho os olhos e vejo de novo tudo que ela mostrou.
             Esta semana, a professora falou muito sobre o Natal e mostrou árvores enfeitadas com bolas coloridas, sininhos e estrelas. E tinha até neve. No alto, um anjo de asas abertas, sorria pra gente. Ela explicou o que era o Natal, falou do nascimento de um menino pobre numa manjedoura, (um lugar onde se põe comida para os animais: vacas e os bois) e que esse menino tinha vindo ao nosso mundo para salvar os homens. Eu não entendi bem essa parte, mas achei lindo aquele menininho ali junto com os bichos. Ela também explicou que uns reis (homens com coroa na cabeça) levaram presentes para o menininho.
             Nossa professora explicou que, hoje, no lugar dos reis, existe um velhinho de barbas brancas, chamado Papai Noel, que dá presentes a crianças no mundo inteiro. E que ele não consegue presentear todas as crianças. Só que ela não explicou isso direito. Eu até vi a foto dele. Parece boa gente. E anda num negócio chamado trenó puxado por uns bichos parecido com cabras de chifres.
            Ela inventou uma brincadeira conosco: a gente fechava os olhos e imaginava o velhinho dando presentes para nós; figuras de bicicletas, carrinhos, bolas, bonecas, roupas, sapatos e livros: muitos livros para ler. Fiquei feliz com meu presente: a figura de uma bicicleta. De noite, apaguei a lamparina e sonhei com meu Natal: montado na minha “bicicleta” fui ao encontro de Papai Noel. Ele me perguntou o que eu queria. E eu respondi que queria de presente uma resposta à minha pergunta: “Você conhece as crianças pobres do Brasil?”

Elba GGomes

domingo, 19 de dezembro de 2010

Brincando com palavras

Coincidemente, o título dessa matéria é o mesmo da seção do nosso blog. Foi garimpada pela minha amiga Daisy.


Brincando com palavras


A ideia de que a poesia está longe da compreensão da criança está cada vez mais enfraquecida. O jogo de palavras, que compõe o lúdico e sensível universo infantil, não carece de explicações ou significados precisos. Rimas, trocadilhos, adivinhas, música, entre outras peças dessa “brincadeira”, são facilmente compreendidas no faz de conta infantil. Quando mães e pais embalam seus filhos ao som de antigas cantigas de ninar, já os estão colocando em contato com a poesia oral. Como disse o poeta José Paulo Paes, “poesia é brincar com as palavras como se brinca com bola, papagaio e pião”.

E, quanto mais cedo essa brincadeira começar, melhor. Para o professor Hélder Pinheiro, pós-doutorado em literatura brasileira e autor dos livros Poesia na sala de aula e Poemas para crianças, desde sempre a poesia oral esteve próxima da criança e não é à toa que todos gostam de rimas, de adivinhas (quase sempre em versos rimados), de parlendas, de jogos de palavras em que a aliteração e a assonância se destacam. “Todo esse material se constitui numa rica iniciação à poesia. Cultivar isso é fundamental se quisermos formar leitores de poesia”, explica.

Quando a criança aprende a falar com desenvoltura, já revela certa acuidade pela sonoridade das palavras. “Inúmeras vezes, brinquei com crianças pequenas com dísticos do tipo: ‘Não me olhe de lado/ que não sou soldado’, ‘não me olhe de frente/ que não sou tenente’. Quando parava, elas pediam que continuasse. O importante é não ficar só nos jogos de rimas, nos trocadilhos. Ir além – oferecer poemas inteiros, quadras, sextilhas e outras estrofes. E não interromper esse cardápio poético. Depois – ou ao mesmo tempo – trazer os livros de poemas e ler.”

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Como fazer um leitor? Envie sua resposta

Sempre que se faz uma pergunta, corre-se o risco de obter várias respostas. Que venham. Quem dera, pudéssemos ter tantas respostas que muitas pessoas pudessem escolher uma e praticá-la. Não temos todas as respostas, nem tampouco podemos elencar a melhor. Temos apenas a prática do exercício de leitor, a paixão pelos livros e a vontade ferrenha de que todo mundo nesse país seja leitor. Não é necessário “devorar” livros e livros, numa gulodice intelectual irrefreada. Não. Podemos começar devagarinho. um livro hoje, outro daqui a um mês... até que a fome de livros se torne uma exigência diária tão básica como comer e dormir. Ousaríamos dizer que o primeiro mandamento é “Seduzir o leitor”. Voltaremos a esse tema depois. Por hoje, ficaremos com as“ratinhas” de Brasília, Maria Célia Madureira e Raquel Gonçalves Ferreira, da Casa de Autores. No livro “Deu rato na Biblioteca” elas nos convidam a  acompanhar a história de um ratinho que foi seduzido pela leitura.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Nossa poesia

Pra começar a semana, um poema de Cecília Meireles  convidando-nos à reflexão: sejamos atentos sem perder a leveza, sem perder a essência...

É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova
borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do
nosso pulso.
O que é preciso é ser como se já não
fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

Cecília Meireles
Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/ceciliameireles04.html

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Brincando com palavras

A sala de aula é um dos locais mais propícios à leitura de poemas. Nas séries iniciais do ensino fundamental, apesar dos esforços de muitos professores, o desenvolvimento pelo gosto literário concorre severamente com os apelos visuais fora da escola e à disposição das crianças. Poesia, antes de ser um jogo de palavras, é jogo e idéias.

Escrevo alguns poemas infantis que não se prendem a regras, nem pretendem ser haicais. Apenas uma tentativa de aproximar os poemas de uma imagem visual.

FÉRIAS
Saíram logo cedo
E deixaram um abraço bem grande
Para o mundo inteiro

QUARTO
Um quarto bagunçado?
Ou um espaço
Parecendo loja com cada coisa no lugar?

BRINQUEDOS
Não achei mais os meus brinquedos
Mas vi a linha do meu pião saindo
Do computador

Elba GGomes