segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Maleficent












Ir ao cinema hoje em dia me faz voltar ao tempo em que isso era feito com um misto de expectativa e mistério (não se tinha àquela época, as informações sobre a história, atores etc). Um único cartaz sobre o filme aguçava a nossa curiosidade. Mas, como ia dizendo, ir ao cinema requeria todo um preparo especial, um certo glamour. Para se ter uma ideia, mesmo com o clima quente do Nordeste, usávamos luvas curtas, de organza, carteira combinando com os sapatos. Pois que ir ao cinema era um acontecimento muito importante na pequena cidade do interior.
Então, quando vou ver um filme, sinto-me um pouco criança outra vez. E quando vi o anúncio de Maleficent, fiquei animadíssima para (re)ver a figura central da princesa que foi adormecida.
O filme é uma versão moderna de A Bela Adormecida, com enfoque na arquitetura psicológica da Maleficent.  Aqui, quem faz a jornada mítica é a vilã e o destaque é para as consequências... o que acontece depois que alguém satisfaz os seus desejos e suas paixões.
A personagem principal  é retratada sem maniqueísmos óbvios; ela não é boa, nem má; ela não é frágil, nem forte. Ela não tem medo de agir conforme suas convicções e fazendo a Guerra por vingança ou na sua busca da redenção, sua intensidade é a mesma. É uma personagem multifacetada e rica, tão distante da vilania tradicional que desperta uma simpatia natural no espectador que torce para que ela vença.
O melhor do filme está na direção inteligente que consegue fazer com que o espectador se desprenda do contexto infantil e reflita sobre a ambição, as paixões, a vingança, o perdão, a redenção e o amor; e de como as decisões repercutem e atingem os que nos cercam.
A emoção atinge os píncaros logo no início do filme na cena alegórica do roubo das asas de Maleficent  expondo as feridas do universo: o estupro, a submissão, a tortura física e emocional, o abandono e a vingança.
Definitivamente, o filme não guarda nenhum resquício do universo criado por Walt Disney, retomando as narrativas medievais pontilhadas de enormes quantidades de dramaticidade pré-Irmãos Grimm.
Some-se a isso, a figura da belíssima Angeline Jolie em uma interpretação magistral.
Não sou expert em cinema, por isso limito-me a deixar aqui as minhas impressões sobre a história que nada mudou em relação à  eterna luta  entre o bem e o mal, evidenciando os sentimentos negativos ligados ao poder, à inveja, à ambição, à vaidade ferida, à vingança...
Embora sejam dois trabalhos distintos – o desenho e o filme – permanece na minha cabeça o fantástico dessa história infantil (?): o reino, os reis, as fadas, a princesa em suas diversas fases da vida, o príncipe, o cenário maravilhoso, o clímax na hora da maldição e o (in)esperado final romântico.
E eu, ali, esperando o instante mágico em que o poder da maldição é quebrado pelo beijo do príncipe apaixonado.
Voltei aos tempos de menina, mas o encantamento quebrou-se. Volto à realidade. Não existem príncipes encantados. Nunca existiram. Estamos diante de um conto de fadas moderno.  
No entanto, isso não desmereceu o filme. Antes, me levou a repensar a vida, a manter o foco na realidade e, sobretudo, a sopesar as nossas atitudes. E, principalmente, a refletir sobre o fato de que a todos nos é ofertada a chance de mudar.

O desfecho surpreendente fica por conta da universalidade do amor, cuja dimensão ultrapassa a visão romântica que se tem desse sentimento maior.

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