A arte da leitura
Para os que se esqueceram do prazer proporcionado
pela leitura, o autor diz:
“Eles tinham simplesmente esquecido o que era
um livro, aquilo que ele tinha a oferecer. Tinham se esquecido, por exemplo,
que um romance conta antes de tudo uma história. Não se sabia que um romance
deve ser lido como um romance: saciando primeiro nossa ânsia por narrativas”.
Fala-se
muito das inúmeras dificuldades de se incrementar a leitura: a ausência de
bibliotecas nas escolas e o preço do livro estão entre as mais citadas. A
despeito de todas as variáveis que influenciam o processo de formação de
leitores, sabe-se que a literatura infantil tem conseguido espaço considerável
junto a escolas e crianças, do maternal aos primeiros anos da escolaridade
básica.
Vamos nos debruçar, então, sobre um aspecto positivo da questão, ou
seja, sobre o fato de que cada vez mais
as escolas estão empenhadas em desenvolver atividades focadas nos eventos de
leitura. Em consequência, mais histórias
são lidas e contadas e mais crianças são
seduzidas pela magia da leitura.
Quando se
fala em leitura, ela parece se subdividir em duas atividades: ler e contar. Um
dos traços distintivos delas é que, ao
se ler a história, ela é apresentada preservando as palavras escolhidas pelo
autor. O leitor deve se manter fiel ao que está escrito.
Por outro
lado, na contação da história a trama pode sofrer pequenas modificações, já que
o contador tem a liberdade para improvisar e agregar elementos a ela. Ele nunca
conta a história da mesma forma.
Parece-nos
que o foco não deve ser a característica dicotômica das duas atividades, mas sim o “acontecer”. Ler ou
contar, tanto faz, desde que, mais e mais crianças tomem intimidade com as
leituras, com as ilustrações, com os autores, com os ilustradores, enfim, com o
mundo mágico dos livros.
O mais
importante é que ler ou contar proporcionem um prazer tão duradouro que as
crianças, ao se tornarem adultas, nunca se esqueçam do que é um livro.
Rubem Alves[2] tem
sua receita:
[...]
Se
eu fosse ensinar a uma criança
a
arte da leitura, não começaria com as letras e as sílabas.
Aí, então, com inveja dos meus
poderes mágicos, ela quereria que eu
lhe ensinasse o segredo que
transforma letras e sílabas em histórias.
É assim. É muito simples.”
[2]
ALVES, Rubem é um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro. É autor de livros e artigos abordando temas
religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.