terça-feira, 31 de janeiro de 2012

CIRANDA, CIRANDINHA, VAMOS TODOS CIRANDAR...

O patinho Feio só viu o que viu
Quando um dia no lago caiu

A Branca de Neve quase morreu
Depois que o espelho falou

O Gato ficou sem botas
Porque andou sem parar

A bela princesa não dormiu
Até que o príncipe surgiu

A Gata Borralheira achou o sapato
Escondido no meio do mato

O Capeuzinho Vermelho tirou a capa
Quando viu o lobo mau na mata

O sapo não lavou o pé
Porque a lagoa secou

Se não entendeu direito
Repita esta quadrinha:

Entrou pela goela do pinto
Saiu pela goela do pato
Seu Rei mandou dizer
Que contasse mais quatro

Elba GGomes

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Fome de rosas


Fome de Rosas, da escritora Rosângela Vieira, Edições Dédalo, 2009. um livro que merece ser lido.


Um romance sem heroínas
 Posted on 23/01/2012

por Henrique Marques-Samyn

 Ao menos para o autor desta resenha, a capa de Fome de rosas pareceu enganosa. A imagem de uma rosa amarela, com a corola voltada para o leitor e a haste desfocada ao fundo, encerra uma indesejável sugestão kitsch, que sugere um texto do mesmo tipo − sentimental e excessivo, porventura; convencional, sem qualquer dúvida. Não obstante, como em tantos casos, o que promete a capa nada tem a ver com o texto. Aquela imagem, suave e inofensiva, funciona como (inadequado) revestimento para um romance implacável, que tem por tema a entrópica trajetória de três mulheres, pertencentes a uma mesma família, cujo fracasso é determinado por um motivo central: o fato de se dedicarem, com excessivo zelo, aos papéis femininos que lhes impõe a sociedade.

O inesperado falecimento de Lisandro, o bem-sucedido e autoritário pater familias, é o que lança ao abismo as três mulheres − Ariadne, a esposa, e as filhas Letícia e Alice −, até então confortavelmente instaladas em seus lugares no pequeno universo em torno do provedor. Ariadne é a esposa que, imersa num ambiente doméstico dominado pela rotina, entrega-se a pequenos afazeres para esquecer-se de si mesma. Letícia é a primogênita, a filha educada para atender ao narcisismo paterno (que, inevitavelmente, ansiava por um homem que fosse o seu perfeito espelho), sobre quem a sombra do morto não cessa de exercer uma influência asfixiante. E Alice é a “princesinha”, a caçula criada com todos os mimos, livre (?) para tornar-se a delicada e caprichosa mulher estimada por uma sociedade sexista.

Com a morte de Lisandro, desaparece o pilar sobre o qual se sustentava o seu mundo. Que fazer, havendo partido a protetora figura masculina? A resposta não poderia ser mais óbvia: procurar alguém que a substitua. Um amor de juventude, para Ariadne; um marido promissor, para Letícia; à adolescente Alice, impõe-se antes o dever de adequar-se aos padrões estéticos que a tornem “desejável” aos olhares masculinos. Entre ressentimentos e incentivos, cada uma dessas mulheres testemunha a luta das outras para cumprir o que lhes designa a sociedade conservadora. E é assim que se delineia a rota da destruição.

Além de muito bem escrito − urdido com uma prosa enxuta e ágil, com recurso a monólogos interiores que desvelam o cinismo e a crueldade próprios das relações humanas −, o livro de Rosângela Vieira me parece valioso por um outro motivo: em consciente oposição a outros leitores, nele não vejo respostas fáceis ou definitivas. Embora Ariadne e Letícia percebam, em algum nível, o que há de pernicioso nos laços de dependência em que se envolvem, isso não significa que tenham descoberto formas de rompê-los em definitivo. Vivemos num mundo em que, quase sempre, as mulheres têm definida sua identidade em função dos homens com que vivem; num mundo em que o modo correto de “ser mulher” se resume, usualmente, a desempenhar bem um papel definido pelas regras masculinas. É difícil dizer em que medida a “redenção” de Ariadne e Letícia logrou escapar a essa norma − e se o seu destino não será, ao fim, semelhante ao de Alice. Em Fome de rosas, não há heroínas: está aí o seu mérito e a sua denúncia.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

HAICAI

O QUE É HAICAI

Haicai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do século 20 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão, e na maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku.
Segundo Harold G. Henderson, em Haiku in English, o haicai clássico japonês obedece a quatro regras:

• Consiste em 17 sílabas japonesas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas

• Contém alguma referência à natureza (diferente da natureza humana)

• Refere-se a um evento particular (ou seja, não é uma generalização)

• Apresenta tal evento como "acontecendo agora", e não no passado.

No transplante do haicai para outros países, algumas das regras anteriores são seguidas com maior ou menor fidelidade, enquanto outras podem ser mesmo ignoradas, dependendo de cada poeta ou da escola seguida.

   pt.wikipedia.org/wiki/Haicai
http://www.kakinet.com/caqui/nyumon.htm


BORBOLETA

A borboleta
Pousava de mansinho
No seio da flor

Elba GGomes


segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Olá 2012!

Muito se diz sobre um ano que se inicia. Novas promessas, novas certezas, novas metas, novas esperanças...  Para 2012, que está despontando, escolhi uma crônica de uma jovem
 que também desponta para a vida com uma cabecinha cheia de "mundo" e
que escreve feito "gente grande: Jamile Lontra Aidar
É no que ela escreveu que quero me inspirar
para me renovar.

Não sou de fazer retrospectivas porque sempre acho que meus acontecimentos ficam aquém, assim também a forma como eu os descreveria ou as duas coisas juntas. Bobeira, eu sei. E nos momentos em que estou feliz penso no quanto sou feliz no todo e tudo isso passa. E volta. E passa e volta. Mas, então, analisando isso tudo, pensei também - lembrei, na verdade - no quanto 2011 foi um ano de preparação e de introspecção quase completa. Sim, já dediquei horas tristes e felizes a desvendar este ano de check list. Não pro ano que vem, mas pra toda a vida.

Li como nunca, fiquei comigo o mais que pude, me retirei voluntariamente. Observei de fora, me senti inteira como não fazia há tempos. Não cedi à insegurança, à angústia ou à ansiedade e, aos poucos, elas foram se esvaindo, no limite do humano. Fiz escolhas erradas (achando que eram certas) acreditando no novo e vi que não era. Olhei ao redor, dei uma ou duas risadas meio altas (que repito vez ou outra quando lembro) e sartei de banda. Percebi o chacoalhão, agradeci a Deus e segui o rumo da mudança, de novo. Não tive medo nem me deixei tentar pelo aconchego sem graça do seguro.

A expectativa do resultado da minha pré-ação me deixa calma, muito. E isso é tão contraditório que reforça minha certeza (já desisti faz tempo da coerência). Um dia, bem lá atrás, abri mão das facilidades que a vida podia me trazer se eu me balizasse pela média. O que me trouxe muito sofrimento até que entendi que tinha sido essa uma escolha. Minha. Mas hoje entendo ainda além: não valeu, sempre deixei um pé no confortável, just in case. Nem lá, nem cá; fiquei perdida. Toda vez que encontrei uma bifurcação eu segui por uma direção olhando para a outra. Peguei diversas vezes a via mediana que tanto criticava. Por isso tanto criticava.

Me dei conta de que estou mais para perspectiva do que para retrospectiva. Agora eu parto de vez para o tudo ou nada, para o mundo todo. O que eu desejo não cabe aqui. E agora é hora de voltar, de sair da introspecção. E essa é a única certeza que tenho. Não sei por quanto tempo, não sei exatamente para onde, não sei direito quando.

Preciso de algumas coisas que me levem além. Pode ser um trabalho em que eu possa ajudar outras pessoas ou uma manhã quente com a família reunida. Observando, me desloco dentro de mim, chego a um lugar que só alcanço assim: observando pra depois refletir e, muitas vezes, escrever.

E não sei se é bem o fim do ano, o 2011 cansativamente dedicado a resoluções, o tempo, só o tempo, mas estou cada vez mais observadora e incerta do que quero. Por outro lado, sei muito bem o que não quero. Talvez seja assim, uma vida de saber o que não se quer. Não acho ruim; é só acostumar com a ideia.
Pra 2012, não quero:
o fim do mundo
vaso sem flor
me doar mais do que posso
criança sem comida
gastar tempo com pessoas que nunca vão melhorar
falar mal dos outros
esse caos social e político
sair da cama sem um sorriso
segurar risada no elevador
me sentir mal porque mudei de ideia
ligar para o que não interessa
ficar com os braços cruzados sem fazer algo para melhorar o mundo
esquecer do que eu não quero

E desejo o mesmo a você.