segunda-feira, 20 de abril de 2015

18 de abril – Dia Nacional do Livro Infantil



Por Elba Gomes
Tem, sim. No Brasil tem um dia dedicado ao livro infantil.
Procuro entender por que apenas um dia para se comemorar o livro infantil e começo a me dar conta de que nessa data planta-se mais uma semente, emite-se mais um alerta para que o livro infantil faça parte da vida das crianças, a tal ponto que ele se transforme num objeto de desejo. Por quê? Porque cheguei à conclusão de que uma data tem uma força incrível. Ela se esgueira da poeira do cotidiano e reina soberana, ainda que por um dia.
Especificamente em relação ao Dia Nacional do Livro Infantil, percebo que tudo assume uma dimensão maior: nesse dia, organizam-se eventos literários e o livro, altaneiro, todo ancho, surge com tamanha força que deixará sua imagem majestática povoando cabecinhas por mais um ano.
Apesar das dificuldades com a disseminação da leitura, apesar dos atrativos das novas tecnologias, o livro é e sempre será um instrumento poderosíssimo para a construção do letramento literário, da cidadania, da inclusão social. E o nosso país avança na oportunização da leitura, sobretudo nas séries iniciais do Ensino Fundamental, quando as crianças familiarizam-se cada vez mais com o livro infantil.
Além do aspecto formal da finalidade da leitura, um fator surge com preponderância: a fantasia. Quem nunca captou nos olhos ansiosos das crianças o brilho da curiosidade pela aventura; o deslumbramento pela descoberta; a surpresa pelo encontro com os personagens que desfilam nas tramas das histórias; o encantamento com a riqueza das ilustrações; as lembranças com as viagens extraordinárias ao país-do-faz-de-conta?
A leitura literária é o alimento primeiro da imaginação, da fantasia, degraus que levam à reconstrução dos saberes e ao conhecimento de mundo.
Mas como fazer com que nossas crianças leiam? Só há uma fórmula: ler! Nós, pais, professores, mediadores de leitura, todos num esforço conjunto conseguiremos dar às nossas crianças as oportunidades de se tornarem leitores que leem porque gostam, porque foram seduzidos pela leitura.
Para esse dia, comemorado na data do aniversário de Monteiro Lobato, minhas homenagens vão para as crianças leitoras e, em especial, para Emília, uma personagem completa, plena e magnífica cujo comportamento marcou alguém que “vive a vida” intensamente, é livre e tem plena consciência de tudo o que está desencontrado no mundo dos humanos.
Vamos ver a letra dessa música sobre a Emília!
Emília (A Boneca Gente) – Baby Consuelo
De uma caixa de costura
Pano, linha e agulha
Nasceu uma menina valente
Emília,a Boneca-Gente
Nos primeiros momentos de vida
Era toda desengonçada
Ficar em pé não podia, caía
Não conseguia nada…
Emília,Emília,Emília
Emília,Emília,Emília
Mas a partir do momento
Que aprendeu a andar
Emília tomou uma pílula
E tagarelou,tagarelou a falar
Tagarelou,tagarelou a falar
Ela é feita de pano
Mas pensa como um ser humano
Esperta e atrevida
É uma maravilha
Emília,Emília
Emília,Emília,Emília
Emília,Emília,Emília
Pra cada história ela tem um plano
Inventa mil ideias, não entra pelo cano
Ah, essa boneca é uma maravilha!
 emilia
Foto de capa: Acervo Elba Gomes
Imagem: divulgação

Maria Não-Sei-De-Quê



Chama-se Maria. Maria de quê? Não se sabe. Ela mesma não sabe muita coisa. Mas, sabe trabalhar. Todos os dias, levanta quando ainda está escuro. Toma um copo de garapa pra enganar o estômago.  Aos domingos (sua mãe sabe os dias da semana), toma um prato de mingau de farinha com leite que é pra dar sustança. Para ela, é tudo igual porque trabalha todos os dias.
O primeiro time de meninos e meninas desce correndo a ladeira e ganham a várzea para chegar ao sítio dos cajueiros.  São 5 horas da manhã. Em meia hora, a pé, chegam lá. E vão cantando:
Pé de caju, pé de moleque
Quem quiser chegar primeiro
Não pode pisar no breque
Cuidado, olhe bem pro chão
Pois debaixo dos cajueiros
Tem castanha de montão”
 
E é uma correria danada. É preciso catar todas as castanhas e levá-las para o galpão. Até o final do dia, o chão tem que estar limpo.
Mas, a Maria faz parte do segundo time.  O trabalho começa às duas da manhã e vai pela madrugada adentro. É a hora de arrumar as trempes, fazer o fogo e botar as castanhas pra torrar. Quando o tacho começa a pegar fogo, é só virar tudo, correndo, e sarrabulhar as castanhas na areia. Aí, é pra quem tem coragem: pegar as castanhas, ainda quente, queimando as mãos, quebrar a casca da castanha com um porrete e retirá-las, uma por uma. Pronto. Aí  estão  elas:  assadinhas.
Foto por Daniel Santini, da Repórter Brasil
Foto por Daniel Santini, da Repórter Brasil
A parte mais perigosa é lidar com o fogo. A fumaça, as labaredas e o calor torram as castanhas que serão descascadas. É preciso muita atenção porque as castanhas soltam um óleo inflamável e as chamas aumentam de repente.
Sempre consegue esconder algumas castanhas pra comer. Mas, se alguém pega, é castigo na certa. Contudo, vale a pena arriscar.
Seu corpo dói todo e só esquece  a dor quando começa  a escutar o som das pequenas batidas do porrete nas castanhas. Um som repetitivo que adormece a sua mente.
Às vezes fica pensando: será que o mundo é só isso? Será que todas as crianças são assim? Mas ninguém sabe a resposta. E Maria sonha. Com, quê? Ninguém sabe. Nem ela.
Outra madrugada: mais trabalho. Disseram que teriam que torrar mais castanhas, porque precisavam de um carregamento maior. E é aquele corre-corre: preparar as trempes, fazer o fogo, colocar as castanhas nos tachos, mexer, mexer…
- Depressa! Mais depressa!
A madrugada está escura; a lua se escondeu não se sabe onde.
Ela sempre fica olhando para aquelas labaredas e se sente dentro delas, esquecendo tudo. Naquela noite, as labaredas parecem convidá-la Começa a ver camaleões de todas as cores, enormes, a olhá-la com os olhos embriagados de prazer. O efeito fantasmagórico dos camaleões coloridos, envoltos em chamas, é algo que nunca imaginara existir.
- Vem, vem! Você vai ver como é bonito!
Maria se sente cada vez mais atraída por aquele fogo, aquela cor avermelhada. Sem conseguir dominar a atração irresistível, o chamamento mágico, Maria vai chegando mais perto, mais perto e, de repente… ela  está dançando sobre as castanhas: ela e os camaleões. Uma dança mágica. Os camaleões, num ritmo alucinante, retorcendo-se de pura alegria.  Ela, também embriagada de puro prazer, rodopia, rodopia, arrebatadamente, como num balé incandescente. O fogo louco, crescendo, querendo lamber o mundo.  Maria cantando a música ancestral do fogo.  As castanhas virando cinza…
 Mas a única coisa que importa é que Maria e os camaleões cantam a canção das chamas; dançam a dança do fogo.
globoesporte.globo.com
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Repórter Brasil / Elba GGomes

Uma aventura no sonho



Por Elba Gomes
Para todos os pais que leem para seus filhos; e também para os que não leem.  E para todos os professores que leem com seus alunos. Para você que é criança; e para você que é adulto.
Nossa dica de hoje é um livro especial, lindo, poético para ser lido por pré-adolescentes, pais e professores.  E por você também, porque todo mundo  deveria se inteirar sobre o que se passa na cabeça de quem está crescendo.
As meninas parecem sofrer mais com os efeitos dessa difícil e complicada fase da vida, mas, invariavelmente, os meninos também passam por mudanças incompreensíveis para eles.
A quase adolescência vem acompanhada de sonhos e medos. E essa mistura de desejos e sentimentos povoa a cabeça de Isabela, a personagem do livro. Se ela pudesse escolher, certamente gostaria de escolher sonhar com coisas bonitas, maravilhosas. Mas, não é isso o que acontece. Isabela só consegue sonhar com espelhos.
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Segundo autor, Leo Cunha, o problema não está nos espelhos, mas no que a menina vê refletido nos espelhos: e não era nada animador: “Alta demais pra sua idade. Magra demais pras minissaias. Olhos arregalados, nariz arrebitado, boca meio esquisita”
Apavorada com aquela situação, Isabela, certa noite, resolve “chamar o sonho pra dança, chamou pra uma conversa”. Depois de se acertar com o “sonho”, este propõe a Isabela três desafios. Se ela conseguir vencê-los, poderá ter bons sonhos.
Conseguirá a personagem vencer esses desafios e ter belos sonhos?
Por certo, o autor pretenda dizer às crianças e aos adultos que o sonho faz parte da vida e que não se deve nunca deixar de sonhar.
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Leo Cunha vale-se de uma prosa poética, com rimas sutis compondo a melodia da narrativa. É como se ela embalasse nossos melhores sonhos.
“Mas sonho ninguém combina. As noites de Isabela seguiam outro roteiro, serviam outra rotina. A lua acordava e dormia, ficava redonda e vazia, mas o sonho de Isabela não mudava a fantasia.”
Acompanhando o ritmo do autor, a ilustradora apreende, com mestria,  toda a poesia que envolve a história, utilizando cores suaves, captando, dessa forma, toda a mensagem poética que o livro encerra.
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Uma Aventura no Sonho
Escritor: Leo Cunha
Ilustradora: Martina Schreiner
Editora: Edelbra