domingo, 14 de dezembro de 2014

A flor do maracujá





A flor do maracujá
 Catulo da Paixão Cearense


 “Não há, oh gente, oh não
Luar como esse do sertão”
Meus queridos leitores, quem de nós já não ouviu “Luar do Sertão? Pois essa música foi composta pelo poeta, músico e compositor maranhense, nascido em 1863, Catulo da Paixão Cearense. Muitos acreditam  que este era seu nome artístico, mas não é nada disso. Era mesmo o seu verdadeiro nome. Filho do ourives e relojoeiro Amâncio José da Paixão Cearense e de Maria Celestina Braga da Paixão, morou em São Luiz, no Estado do Maranhão. Sobre esse grande poeta, dizia Monteiro Lobato: "Catulo é bem a voz da terra brasílica".





Dentre suas composições, uma, em especial, me chama a atenção. É “A flor do maracujá”. Nos meus tempos de criança, ouvíamos a declamação dos versos e eu ficava encantada com a história daquela flor.

Uma das versões sobre essa flor, diz que, em inglês,  a expressão passion flower significa “flor de maracujá”. Está ligada à Paixão de Cristo. Consta que esta denominação tem origem entre os séculos XV e XVI, quando missionários espanhóis viram diferentes símbolos da Paixão na flor do maracujá. Segundo esses missionários, as dez pétalas e sépalas da flor representavam os apóstolos menos São Pedro (o negador) e Judas Iscariotes (o traidor). As cinco anteras representavam as cinco chagas. A coroa de espinhos foi vista nos filamentos. Os três estigmas foram associados aos pregos usados para furar as mãos e os pés de Cristo. As pontas das folhas foram tomadas para representar a Lança Sagrada. E os tentáculos ou gavinhas representavam o chicote usado na flagelação de Cristo.


A flor do maracujá
Encontrando-me com um sertanejo, 
Perto de um pé de maracujá, 
Eu lhe perguntei: 
Diga-me caro sertanejo, 
Porque razão nasce roxa, 
A flor do maracujá?
Ah, pois então eu lhes conto, 
A estória que ouvi contá, 
A razão pruque  nasci  roxa, 
A frô do maracujá. 
Maracujá já foi branco, 
Eu posso inté lhe ajurá, 
Mais branco qui a caridadi, 
Mais branco do que o luá.
Quando as frô brotava nele, 
Lá pros confim do sertão, 
Maracujá parecia, 
Um ninho de argodão. 
Mais um dia, há muito tempo, 
Num meis que inté num mi alembro, 
Si foi maio, si foi junho, 
Si foi janeiro ou dezembro.
Nosso sinhô Jesus Cristo, 
Foi condenado a morrê 
Numa cruis crucificado, 
Longe daqui como o quê, 
Pregaro o cristo a martelo, 
E ao vê tamanha crueza, 
A natureza inteirinha, 
Pois-se a chorá di tristeza.
Chorava us campu, 
As foia, as ribeira, 
Sabiá tamém chorava, 
Nos gaio da laranjera, 
E havia junto da cruis, 
Um pé de maracujá, 
Carregadinho de frô, 
Aos pé de nosso sinhô.
I o sangui de Jesus Cristo, 
Sangui pisado de dô, 
Nus pé du maracujá, 
Tingia todas as frô, 
Eis aqui seu moço, 
A estória que ouvi contá, 
A razão pruque nasci  roxa, 
A frô do maracujá


Vamos ouvir a declamação do poema, por José Márcio Castro Alves

https://www.youtube.com/watch?v=uE-2d-ITIB8


Nenhum comentário:

Postar um comentário