Ir ao cinema hoje em dia me
faz voltar ao tempo em que isso era feito com um misto de expectativa e
mistério (não se tinha àquela época, as informações sobre a história, atores
etc). Um único cartaz sobre o filme aguçava a nossa curiosidade. Mas, como ia
dizendo, ir ao cinema requeria todo um preparo especial, um certo glamour. Para se ter uma ideia, mesmo
com o clima quente do Nordeste, usávamos luvas curtas, de organza, carteira
combinando com os sapatos. Pois que ir ao cinema era um acontecimento muito importante
na pequena cidade do interior.
Então, quando vou ver um
filme, sinto-me um pouco criança outra vez. E quando vi o anúncio de Maleficent, fiquei animadíssima para (re)ver
a figura central da princesa que foi adormecida.
O filme é
uma versão moderna de A Bela Adormecida, com enfoque na arquitetura psicológica
da Maleficent. Aqui, quem faz a jornada mítica é a vilã e o
destaque é para as consequências... o que acontece depois que alguém satisfaz
os seus desejos e suas paixões.
A personagem
principal é retratada sem maniqueísmos óbvios;
ela não é boa, nem má; ela não é frágil, nem forte. Ela não tem medo de agir
conforme suas convicções e fazendo a Guerra por vingança ou na sua busca da
redenção, sua intensidade é a mesma. É uma personagem multifacetada e rica, tão
distante da vilania tradicional que desperta uma simpatia natural no espectador
que torce para que ela vença.
O melhor
do filme está na direção inteligente que consegue fazer com que o espectador se
desprenda do contexto infantil e reflita sobre a ambição, as paixões, a
vingança, o perdão, a redenção e o amor; e de como as decisões repercutem e
atingem os que nos cercam.
A emoção
atinge os píncaros logo no início do filme na cena alegórica do roubo das asas
de Maleficent expondo as feridas do universo: o estupro, a
submissão, a tortura física e emocional, o abandono e a vingança.
Definitivamente,
o filme não guarda nenhum resquício do universo criado por Walt Disney,
retomando as narrativas medievais pontilhadas de enormes quantidades de
dramaticidade pré-Irmãos Grimm.
Some-se a isso, a figura da
belíssima Angeline Jolie em uma interpretação magistral.
Não sou expert em cinema,
por isso limito-me a deixar aqui as minhas impressões sobre a história que nada
mudou em relação à eterna luta entre o bem e o mal, evidenciando os sentimentos
negativos ligados ao poder, à inveja, à ambição, à vaidade ferida, à vingança...
Embora sejam dois trabalhos
distintos – o desenho e o filme – permanece na minha cabeça o fantástico dessa
história infantil (?): o reino, os reis, as fadas, a princesa em suas diversas
fases da vida, o príncipe, o cenário maravilhoso, o clímax na hora da maldição
e o (in)esperado final romântico.
E eu, ali, esperando o
instante mágico em que o poder da maldição é quebrado pelo beijo do príncipe
apaixonado.
Voltei aos tempos de menina,
mas o encantamento quebrou-se. Volto à realidade. Não existem príncipes
encantados. Nunca existiram. Estamos diante de um conto de fadas moderno.
No entanto, isso não
desmereceu o filme. Antes, me levou a repensar a vida, a manter o foco na realidade
e, sobretudo, a sopesar as nossas atitudes. E, principalmente, a refletir sobre
o fato de que a todos nos é ofertada a chance de mudar.
O desfecho surpreendente
fica por conta da universalidade do amor, cuja dimensão ultrapassa a visão
romântica que se tem desse sentimento maior.
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