quinta-feira, 24 de julho de 2014

Primeiro a magia da história, depois a magia do bê-a-bá






            
Rubem Alves


Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da jardinagem,
não começaria com as lições das pás,
 enxadas e tesouras de podar.

Levá-la-ia a passear por parques e jardins, mostrar-lhe-ia flores
 e árvores, falaria sobre suas maravilhosas
simetrias e perfumes; levá-la-ia  a livrarias, para que ela visse,
nos livros de arte, jardins de outras partes do mundo.

Aí, seduzida pela beleza  dos jardins ,ela me pediria para
ensinar-lhe as lições das pás, enxadas e tesouras do poder.

Se eu fosse ensinar a uma criança a beleza da música,
não começaria com partituras, notas e pautas.

Ouviríamos juntos as melodias
mais gostosas e lhe contaria sobre
os instrumentos que fazem a música.

Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
 que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas
 pretas escritas sobre cinco linhas.

Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas
ferramentas  para a produção da beleza musical.

Se eu fosse ensinar a uma criança
a arte da leitura,  não começaria
com as letras e as sílabas.

Simplesmente leria as histórias mais fascinantes que a fariam
entrar no mundo encantado da fantasia.

Aí, então, com inveja dos meus  poderes mágicos, ela quereria que eu lhe ensinasse o segredo que  transforma letras e sílabas em histórias.

É assim. É muito simples.


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