Dia 13 de novembro, Manoel
de Barros poeta sul-mato-grossense, deixou-nos. Um dos principais autores
contemporâneos do país, teve o Pantanal como tema de seus escritos. Do nada
inventava coisas (linguagem) e de tanto inventar, aumentou o mundo.
O que falar
sobre esse homem-menino que a vida toda brincou com as palavras, criando um
universo lírico próprio; que saiu do lugar-comum para falar de coisas simples
com a profundidade que só os iluminados sabem fazer? E, para não cair no lugar-comum,
reproduzo aqui algumas palavras de Manoel de Barros.
"Sou um cara que ama brincar com palavras. Eu me criei no mato moda
ave. O lugar onde me criei tinha só árvore, água e passarinhos. O lugar me
inventou para fazer brinquedos. Comecei fazendo bola de laranjas e carros de
latas de goiabada vazias. Depois me desenvolvi: comecei a fazer brinquedos com
palavras. Mas por não conhecer o nome das palavras, eu batizava elas a meu
gosto. Sou hoje um cidadão, inventor da língua de brincar. E me comunico em
livros na língua de brincar. Não há nisso metafísica".
E esse poema:
.
O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manoel de Barros não morreu; como disse
sua neta: “virou passarinho.”