“Ninguém resiste a uma
história, principalmente a uma história bem
contada”
Affonso
Romano de Sant’ana
“Um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar.”
Rubem Alves
Leitura e prazer são indissociáveis A leitura
passa pelo prazer de descobrir algo novo, de sair da realidade e entrar em outra dimensão onde tudo se processa de
forma prazerosa.
Sabe-se que a prática da leitura deve ser estimulada
desde a infância, antes mesmo de a criança entrar na escola; antes mesmo de
nascer.
Quando trabalho “leitura” com professores do ensino
fundamental, e sempre que vejo algumas professoras grávidas, costumo perguntar:
“Já leu algum livro para essa criança?” E antes que elas respondam, eu digo: Se
não leu, já está atrasada.”
Em verdade, a infância é a fase de instigar,
deslumbrar, despertar e convencer esse leitor por meio do manuseio do livro, da
observação do texto, das ilustrações, da cor, do formato, do cheiro. É a fase
de desenvolver na criança a noção de que o livro é um bem cultural e que deve se
transformar em “objeto de desejo” tal qual um brinquedo exposto na vitrine. E
nessa fase, a presença do mediador de leitura (pai, mãe, avô, avó) é
indispensável, porquanto é a hora da semeadura.
Lembro-me de quando era bem pequena, ainda, da hora
mágica da contação de histórias por D. Luizinha, descendente de escravos, apresentava-nos
todo o fantástico universo das histórias infantis que aprendera não sei com
quem. E nós, no sítio da minha avó, ficávamos horas a ouvi-la e nem nos dávamos
conta de que o tempo passara. Mais tarde, já sabendo ler, ouvíamos debaixo da
mangueira principal, em frente à casa grande, meu primo que, do alto de uma pedra
mais declamava que lia os folhetos de cordel, dos quais nunca me esqueci de um:
“A princesa Rosalinda e o dragão”. Mais tarde, ainda, já leitora autônoma,
devorava os livros enormes com letras e ilustrações azuis que meu irmão comprava
em Recife: A bela adormecida, Branca de Neve e os sete anões e tantos outros. Hoje,
leitora voraz, tenho nos livros uma das maiores paixões.
Quando se
fala em leitura para criança, ela parece se subdividir em duas atividades: ler
e contar. Um dos traços distintivos delas é que, ao se ler a história, ela é
apresentada preservando as palavras escolhidas pelo autor. O leitor deve se
manter fiel ao que está escrito.
Por outro
lado, na contação da história a trama pode sofrer pequenas modificações, já que
o contador tem liberdade para improvisar e agregar elementos a ela. Ele nunca
conta uma história da mesma forma.
Parece-nos
que o foco não deve ser a característica dicotômica das duas atividades, mas
sim o “acontecer”. Ler ou contar, tanto faz desde que mais e mais crianças
tomem intimidade com os textos, com as ilustrações, com os autores, com os
ilustradores, enfim, com o mundo mágico dos livros.
Ademais,
associado ao prazer da leitura ou da contação deve estar a responsabilidade e a
obrigação de se expor as crianças ao maior número possível de bons livros e
textos
O mais
importante é que ler ou contar proporcionem um prazer tão duradouro que as
crianças, ao se tornarem adultas, nunca se esqueçam do que é um livro.
Para Rubem Alves, As
historias contadas têm o efeito da conquista por quem conta, e a historia lida
desperta o interesse em folhear o livro. Essas duas formas de comunicação do
leitor e ouvinte precisam de um cuidado no texto repassado, a maneira como foi
lido, de que jeito a historia será interpretada.
É ainda Rubem Alves que nos dá sua receita em
Primeiro a magia da
história, depois a magia do bê-á-bá
[...]
Se eu fosse ensinar a uma criança
a arte da leitura, não começaria
com as letras e as sílabas.
Simplesmente leria as histórias mais
fascinantes que a fariam entrar
no mundo encantado da fantasia.
Aí, então, com inveja dos meus
poderes mágicos, ela quereria que eu
lhe ensinasse o segredo que
transforma letras e sílabas em histórias.
É
assim.
É
muito simples.”
E, agora... que tal assistir a dois vídeos? O primeiro é a
contação, por Giba Pedroza, da história
“Margarida”, escrita e ilustrada por André Neves. O segundo, a leitura do livro “Quem quer brincar comigo?,
de Tino Freitas, com ilustrações de Ivan Zigg.