Primeiro
domingo de 2016, primeira reunião de família na
casa da Helena, de 4 anos. São nove pessoas: Marcus e Hyasmine, pais de
Helena e de Isabel, 8 meses; Cadu, primo e Manu, esposa do Cadu; Luciene, avó das
meninas, Elba, bisavó e Danielle, tia.
Helena
nos recebe com uma alegria incrível. Saltitante, abraça e beija todos.
Depois
de pôr o papo em dia, hora do lanchinho de praxe e mais papo. Eis que Helena
aparece com uma chave de carro na mão e a mãe logo diz: “É a chave do Cadu”. E
ninguém dá mais atenção ao fato de ela estar brincando com a chave do carro. A
conversa flui e ela fica a brincar por ali. Logo, cansa-se dos adultos, vai
para seu quarto, senta-se à sua mesinha e fica montando um brinquedo.
Lá
pelas 20h, as visitas resolvem bater em retirada. É quando Cadu dá por falta da chave do carro.
-
Esposa, cadê minha chave?
-
Não está comigo.
-
Não estou encontrando minha chave.
-
Deve estar por aqui. A Helena estava com ela – lembra a Bisa.
Começa
uma busca na sala. Tudo é revistado: mesa, cadeiras, sofá, poltroninhas,
mesinhas, e...nada. A mãe pergunta:
-
Helena, cadê a chave do Cadu?
Ela
fica preocupada, mas não diz nada. E começa a ajudar na busca. Levanta os
porta-retratos, um a um; mexe daqui, mexe dali... E faz uma carinha de
frustração por não encontrar nada.
-
Helena, onde você colocou a chave do Cadu? – pergunta o pai?
Ela
faz um muxoxo, resmunga alguma coisa e
continua sua busca particular; mas, nada...
Aí,
vem a revista pesada: sofá e poltroninhas afastadas; almofadas reviradas,
revista embaixo dos móveis. Mistério...
-
Helena, você lembra onde colocou a chave do Cadu?
Ela
pensa um instante e diz:
“Na
“arvre””.
Mãos
ávidas começam a minuciosa busca na árvore de Natal. Todos os penduricalhos
natalinos são revistados. Nada...
-
Vamos pensar, Helena. A chave do carro do Cadu está...
-
Na cozinha!
Todos
correm para a cozinha: abrem fogão, micro-ondas, gavetas; revistam sacolas,
fruteira, pia, nada...
“Revistem
suas bolsas”. – alguém diz.
As
mulheres revistam tudo. Ninguém acha a bendita.
A
essa altura, percebe-se um ar de
preocupação em todos os semblantes. Aí, Manu diz:
-
Vamos buscar a chave reserva lá em casa.”
Alívio!
Então,
ela lembra:
“Ih, a chave do apartamento está porta-luvas
do carro.”
Todos
murcham.
-
Mas como se deixa a chave de casa no carro! – diz a Bisa.- A minha anda comigo, na bolsa.”
-
A minha também fica no carro. – diz a Luciene, solidária.
-
Helena, onde estará a chave do Cadu?
-
No vaso.
O
pai corre aos banheiros e olha nos vasos sanitários; mas nada de chave.
-
Ai, eu ia ao banheiro, mas agora não vou mais porque tenho medo de dar
descarga. Já pensou se a chave estiver lá? – diz Manu.
O
pai, mais que preocupado, fala pra Helena:
-
Vamos procurar no seu quarto?
Lá
se vão para o quarto da Helena. Ficam a Bisa e o Cadu na sala, meio apreensivos, pensando
em como equacionar o problema.
Uma
busca geral é feita: no armário, embaixo da cama, na estante de livros, na de
brinquedos, nas caixas de brinquedos, nos baldes de lápis de cor...
Dentre
os brinquedos da Helena, há uma casinha das chaves, um brinquedo em forma de
casa que tem, no teto, buracos por onde se empurram determinados blocos geométricos,
de formas diferentes. A casinha tem quatro portas, cada uma de uma cor: verde,
roxo, azul e vermelha. Para cada porta, uma chave, da cor correspondente. Até
aí, nada de mais porque a Helena já faz tudo certinho: fecha as portas da
casinha, coloca os blocos geométricos nos buracos e eles caem dentro da
casinha. Depois, ela abre cada porta com a chave da mesma cor da porta, para
retirar os blocos. Se errar a cor da chave, não conseguirá abrir a porta.
De
repente, não mais que de repente... um grito:
-
Achei! Tá dentro da casinha.
Correria
para o quarto.
- Só tem um problema, - diz o Marcus - a
casinha está fechada e as chaves não estão por aqui.
Agora
a busca é pelas chaves da casinha. Nada...
-
Me arranjem uma pinça. – pede Danielle.
Futuca
daqui, futuca dali, Danielle consegue puxar a chave pra fora da casinha.
E
o pai aparece na sala, aliviado, com a chave na mão. Começam as despedidas e Helena, que tudo acompanha, pergunta:
-
E as chaves da Helena, ninguém vai procurar?
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