sábado, 23 de janeiro de 2016

A chave





      
Primeiro domingo de 2016, primeira reunião de família na  casa da Helena, de 4 anos. São nove pessoas: Marcus e Hyasmine, pais de Helena e de Isabel, 8 meses; Cadu, primo e Manu, esposa do Cadu; Luciene, avó das meninas, Elba, bisavó e Danielle, tia.
Helena nos recebe com uma alegria incrível. Saltitante, abraça e beija todos.
Depois de pôr o papo em dia, hora do lanchinho de praxe e mais papo. Eis que Helena aparece com uma chave de carro na mão e a mãe logo diz: “É a chave do Cadu”. E ninguém dá mais atenção ao fato de ela estar brincando com a chave do carro. A conversa flui e ela fica a brincar por ali. Logo, cansa-se dos adultos, vai para seu quarto, senta-se à sua mesinha e fica montando um brinquedo.
Lá pelas 20h, as visitas resolvem bater em retirada. É quando  Cadu dá por falta da chave do carro.
- Esposa, cadê minha chave?
- Não está comigo.
- Não estou encontrando minha chave.
- Deve estar por aqui. A Helena estava com ela – lembra a Bisa.
Começa uma busca na sala. Tudo é revistado: mesa, cadeiras, sofá, poltroninhas, mesinhas,  e...nada. A mãe pergunta:
- Helena, cadê a chave do Cadu?
Ela fica preocupada, mas não diz nada. E começa a ajudar na busca. Levanta os porta-retratos, um a um; mexe daqui, mexe dali... E faz uma carinha de frustração por não encontrar nada.
- Helena, onde você colocou a chave do Cadu? – pergunta o pai?
Ela faz um muxoxo, resmunga  alguma coisa e continua sua busca particular; mas, nada...
Aí, vem a revista pesada: sofá e poltroninhas afastadas; almofadas reviradas, revista embaixo dos móveis. Mistério...
- Helena, você lembra onde colocou a chave do Cadu?
Ela pensa um instante e diz:
“Na “arvre””.
Mãos ávidas começam a minuciosa busca na árvore de Natal. Todos os penduricalhos natalinos são revistados.  Nada...
- Vamos pensar, Helena. A chave do carro do Cadu está...
- Na cozinha!
Todos correm para a cozinha: abrem fogão, micro-ondas, gavetas; revistam sacolas, fruteira, pia, nada...
“Revistem suas bolsas”. – alguém diz.
As mulheres revistam tudo. Ninguém acha a bendita.
A essa altura, percebe-se  um ar de preocupação em todos os semblantes. Aí,  Manu diz:
- Vamos buscar a chave reserva lá em casa.”
Alívio!
Então, ela lembra:
 “Ih, a chave do apartamento está porta-luvas do carro.”
Todos murcham.
- Mas como se deixa a chave de casa no carro! – diz a Bisa.-  A minha anda comigo, na bolsa.”
- A minha também fica no carro. – diz a Luciene, solidária.
- Helena, onde estará a chave do Cadu?
- No vaso.
O pai corre aos banheiros e olha nos vasos sanitários; mas nada de chave.
- Ai, eu ia ao banheiro, mas agora não vou mais porque tenho medo de dar descarga. Já pensou se a chave estiver lá? – diz Manu.
O pai, mais que preocupado, fala pra Helena:
- Vamos procurar no seu quarto?
Lá se vão para o quarto da Helena. Ficam a Bisa  e o Cadu na sala, meio apreensivos, pensando em como equacionar o problema.
Uma busca geral é feita: no armário, embaixo da cama, na estante de livros, na de brinquedos, nas caixas de brinquedos, nos baldes de lápis de cor...
Dentre os brinquedos da Helena, há uma casinha das chaves, um brinquedo em forma de casa que tem, no teto, buracos por onde se empurram determinados blocos geométricos, de formas diferentes. A casinha tem quatro portas, cada uma de uma cor: verde, roxo, azul e vermelha. Para cada porta, uma chave, da cor correspondente. Até aí, nada de mais porque a Helena já faz tudo certinho: fecha as portas da casinha, coloca os blocos geométricos nos buracos e eles caem dentro da casinha. Depois, ela abre cada porta com a chave da mesma cor da porta, para retirar os blocos. Se errar a cor da chave, não conseguirá abrir a porta.
De repente, não mais que de repente... um grito:
- Achei! Tá dentro da casinha.
Correria para o quarto.
 - Só tem um problema, - diz o Marcus - a casinha está fechada e as chaves não estão por aqui.
Agora a busca é pelas chaves da casinha. Nada...
- Me arranjem uma pinça. – pede Danielle.
Futuca daqui, futuca dali, Danielle consegue puxar a chave pra fora da casinha.
E o pai aparece na sala, aliviado, com a chave na mão. Começam as despedidas e     Helena, que tudo acompanha, pergunta:
- E as chaves da Helena, ninguém vai procurar?



Nenhum comentário:

Postar um comentário